das Mãos, a Obra… um projeto da arte… do artista…

Das mãos, a obra nos convida a olhar as mãos por trás da obra. Faz uma provocação, tornando o artista a própria obra. A ideia é mergulhar através da fotografia na busca da essência desse artista, partindo de sua produção artística. Projeto audacioso que, mais que desvendar o artista, desvenda uma cidade, suas vicissitudes e pluralidades até então inexploradas; uma fotógrafa que clica Guarulhos e a doa para que outros olhares a reconstruam em tantos outros sentidos…

Captar o artista no seu fazer, na busca da sua obra de “arte”, aquela que emudece e se faz ouvir e tocar por si mesma. Através da lente, a cada clique, a fotografia, o momento único, revelando mais do que a própria obra, propõe uma viagem no tempo e nos convida à sutileza do parar, do olhar e contemplar, do degustar a arte alimentando a mente. Neste processo foi possível descobrir uma Guarulhos exposta através de mãos e olhares sensíveis, desvelando costumes, tradições e características de sua gente. Inexoravelmente nos faz refletir essa cidade na sua diversidade, ressignificando-a.

É nessa perspectiva que cabe uma reflexão sobre a arte e o artista, pois como disseram, respectivamente, Oscar Wilde e Picasso “Revelar a arte e ocultar o artista é o objetivo da arte”… “Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há também aqueles que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol”. Então, como identificar, reconhecer o autor de uma obra? Quantas vezes imaginamos quem estaria por trás da obra de arte, quem é esse artista? Qual o sentido de sua obra? Qual a sua intenção? O seu real desejo? Foi inspiração, transpiração, técnica? Será possível responder tantas inquietações?

Toda obra de arte ganha projeção na sua incompletude, na medida em que, ao se lançar ao mundo, ganhará múltiplos olhares e sensações e, a cada olhar, o expectador a observará e dará o seu valor de acordo com seus desejos, sua formação, elencando múltiplas possibilidades desde “que obra maravilhosa” ou apenas “não gostei”. A obra é sempre maior que o autor e a ele deve transgredir, pluralizar e tocar a todos. O que menos importa aos expectadores é a intenção do autor, pois no final ela já não lhe pertence. A obra se transmuta sendo múltipla, na medida em que os olhares perpetuam o autor por trás dela. A mão, a intenção, é apenas a de um ser preso ao seu tempo, aos seus valores, à sua história, ao seu percurso, aos seus medos e alegrias, às emergências e exigências próprias de sua humanidade. Não obstante, a obra o redime ou o destrói. Ao tecer sua intenção costurando lentamente, modelando, a obra nasce para se perpetuar.

Das mãos, a labuta, a transformação da matéria-prima, a transmutação da massa, a obra que uma vez lançada adquire vida própria.

Mas que olhar nos possibilita reconhecer e identificar o autor atrás da obra… Desde o aparecimento do homem, a arte se faz presente como uma necessidade vital que nos aproxima, provoca, gera paradoxos, nos humaniza. Ao realizar a sua obra o artista nem adormece e já se inquieta buscando um novo desafio. Indubitavelmente, o artista segue deixando sua obra para que ela se realize além de si próprio.

Das mãos, a obra, da obra, as mãos que tecem meticulosamente beleza, inquietude… êxtase!

Maria Josenita Viana
Formada em história, especialização em educação, pedagogia e direito

Percurso das Mãos

Por meio de nosso órgão mais sensível, a pele, tomamos contato com o mundo. Nossas civilizações foram construídas a partir da possibilidade do uso de ferramentas.

Fabricando objetos a partir da observação, inteligência e imaginação, modificamos o mundo, interferindo na natureza em pequena e grande escala.

Passando pelos mestres de ofício, que tinham em sua prática cotidiana o exercício incansável de seu saber e da transmissão deste aos jovens aprendizes, chegamos aos artistas e artesãos de hoje, que sonham, teimosos, aperfeiçoar fazeres que foram sendo substituídos pela indústria e tecnologia.

Os que se dedicam a criar com as mãos fazem uma escolha que os transforma em ponte entre o passado e o futuro.

Cada objeto feito à mão é único e capta a essência da pessoa, sua intenção e sua cultura, que diz respeito ao lugar de onde vem.

As mãos que trançam, amarram, recortam, pintam, tricotam, colam, torcem, desbastam, gravam, adornam, desenham, deixam marcas de vida e de seu tempo. Tempo que é, em última instância, a matéria-prima da Arte.

O livro “das Mãos, a Obra”, presta uma homenagem ao fazer que brota da imaginação e anima as mãos a criarem, expressando nossa humanidade. Registra a incessante dança das mãos.

Maria do Rosário F. Souza
Educadora, Artista Plástica